Ahhh... os dias cinzentos... Os dias nublados... São os dias em que ficamos mais "tristes", mais lentos, mais...parados. São nos dias cinzentos que paramos um pouco para pensar. É quando nosso metabolismo funciona de forma mais lenta. Muitas vezes somos tomados por momentos de nostalgia no decorrer do dia. Uma nostalgia melancólica. A respiração mais lenta. O frio nos abraça consolador, penetranto em nossos poros com sua incômoda umidade. Alguns se sentem bem nesse clima denso e triste outros não suportam. Olhando o céu vemos a obra de arte que a natureza nos proporciona todo dia, modificada, traços fortes e ao mesmo tempo sublimes, cores leves e densas, um contraste do gélido cinza pairando indiferente sobre nossas cabeças.

                        Ocupados demais com nossas problemas cotidianos, acostumados com o cinza da calçada, com o cinza das paredes, dos prédios, das casas, dos carros da poluição, que não notamos o mais belo dos cinzas, o cinza que não é criado pelo homem o cinza que é criado pela natureza...

                        Paro em meio à rua movimentada, o celular vibrando furiosamente no bolso, levando tombos dos traunsentes, uns propositais outros não, a maleta na mão que ostenta no pulso o relógio que nos mostra o nosso maior adversário no mundo moderno : o tempo.... mas nesse instantes os meus ponteiros param, erguendo lentamente os olhos, algo me chama a atenção, não era um outdoor, não era uma aeronave, não era nenhum anúncio... era o céu! Estava... estava... lindo. Não estava azul, não tinha nuvens brancas, não estava laranja, vermelho, não tinha estrelas brilhantes! Estava apenas cinza... intimamente triste, ao ver a indiferença dos humaninhos à sua majestosa presença... Os dedos se abre deixando cair a valise espalhando os papéis que minutos atrás eram tão importantes... Extasiado, presenciando um dos mistérios do Universo... a abóbada celeste... abro os braços, sorrindo como nunca sorria, as pessoas achando-me louco... quem se importa com que os outros pensam... eu estava ali.... finalmente tinha visto a essência de uma das maravilhas da Natureza... Eu senti o que o céu sentia naquele momento... mas logo ele se tornou um manto cinza, eu já não sentia mais nada, uma nuvem de poeira cobriu a luz esbraquiçada... peguei minha maleta e continuei andando para onde tinha que ir... continuei cego... nunca mais abri os olhos... mas viveria feliz sabendo que um dia eu senti o que o céu sentiu...


Foto por Davi Arteac